quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Elogio da Loucura (Parte 2)

PARTE 1 - http://www.propost.com.br/post/detalhe/2012113034-o-elogio-da-loucura--erasmo-de-rotterdam

Para a leitura desta , segunda parte do texto, onde continuo em uma análise e apresentação de O Elogio da Loucura, que foi considerada a obra máxima de Eramo de Rotterdam, aconselho que seja feita a leitura da parte 1 do texto onde há uma apresentação sobre a vida e obra de Erasmo, com um foco maior na obra em que vos apresento, assim como o início dos pensamentos da Loucura em relação a i mesma e ao mundo.

Ainda apresentarei a terceira parte do texto para que a leitura não se prolongue muito e se torne muito cansativa para você, meu caro leitor.

Continuando....

O ELOGIO DA LOUCURA (PARTE 2)


Que criatura no mundo pode ser mais louca que a mulheres? Eu mesma, que vos escrevo este texto sou uma, e a própria Loucura é mulher. Por que nos autodenominar loucas? Assim como já escrevi anteriormente: que mulher se entregaria ao matrimônio e a maternidade sem antes refletir sobre tudo, aguentar indiferenças constantes e as dores do parto, a infância e a juventude rebelde dos filhos ou a perda de sua liberdade? Não vou generalizar, pois nem todas as relações são deprimentes, mas nós, mulheres, bem sabemos tirar proveito de todas as bênçãos da Loucura. A mulher vive em um reino de fantasias, ludibriada coloca seus sonhos em um casamento... Um vestido branco... Um buquê... A utópica vida a dois... A mulher é fortemente ligada à simbologia da pureza. No fim, nós mulheres do séc. XXI, ainda muito nos comparamos com as tais Mulheres de Athena de Chico Buarque que “Vivem para os seus maridos”.

“As mulheres poderiam se irritar comigo por lhes atribuir a Loucura, comigo que sou mulher também e a própria Loucura? Certamente que não. Observando bem, é esse dom da loucura que lhes permitem serem, sob muitos aspectos, mais felizes que os homens.” (XVII – A Loucura Torna as Mulheres Amáveis).

Segundo a Loucura “Para viver como homem é preciso abster-se de sabedoria”, e como exemplo ela cita Sócrates que foi condenado a beber cicuta, devido ter sido culpado de tanta sabedoria que afrontou os princípios de sua sociedade, perdeu-se em estudos e esqueceu o mundo ao seu redor. No capítulo XXIV a Loucura faz uma crítica há um governo tecnocrata, ela cita e critica a máxima de Platão:

“Felizes das repúblicas cujos filósofos fossem governantes ou cujos governantes fossem filósofos”.

A intolerância desta Deusa é devido ela ser deixada de fora durante um governo com tal princípio político, pois somente haveria espaço para racionalidades e filosofia, já que os filósofos são seus maiores inimigos. Veja o trecho de suas críticas:

“...O pior governo sempre foi aquele de alguém versado em filosofia ou em literatura. A exemplo dos dois Catão, a meu ver, é inclusivo; um colocou praticamente a República de ponta cabeça por suas extravagantes denúncias. O outro ao defender com excessiva sabedoria e liberdade do povo romano, acabou por compromete-lo definitivamente.” (XXIV – A inferioridade da Sabedoria do governo).

Em um governo sábio não haverá espaço para a política de pão e circo, e se não há circo não há entretenimento, e se não há entretenimento... Não haverá Loucura. Mais uma vês a Loucura critica a Sabedoria, maldita figura intrometida em seus afazeres cotidianos, esta semideusa sempre buscando mostrar a realidade ao humanos e a eles propor sofrimentos e angústias.

A sabedoria mostra ao homem a realidade e frente a ela ele não mais consegue retornar ao seu ponto inicial, é como a caverna de Platão, ele muito busca desprender-se do meio comum, mas ao conhecer além, ele não sabe o que fazer, então o que lhe resta e vagar pelo mundo lamentando sua sorte que outrora foi seu maior desejo como o misantropo Timon do deserto.

“Convidai um sábio a um banquete e vereis que se tornará um estraga prazeres por seu melancólico silêncio ou por suas importunas dissertações. Convidai a um baile e haverá de dançar como um camelo que corcoveia. Levai a um espetáculo e bastará seu aspecto para silenciar o povo que diverte, obrigando os organizadores a retirá-lo, como ocorreu com Catão que não conseguiu se desfazer de seu ar carrancudo” (XXV- A Inferioridade da Sabedoria na Vida do Homem).

Então não seria a Loucura o principal meio de alcançar a verdadeira sabedoria? Na verdade nós, humanos, não sabemos qual é a sabedoria que precisamos, se é aquela de intelectuais contida de manuscritos remotos até era da digitalização ou a sabedoria proveniente no conhecimento do mundo como um ser humano dotado de liberdade e curiosidade. Nossas obrigações nós impõem inevitavelmente a hesitação para toda e qualquer ação por medo de errar em algum ponto e é este medo que ao mostrar o perigo, nos impede da ação.

Somente a loucura pode nos privar de tal pensamento negativo, e, somente com ela poderemos alcançar a verdadeira felicidade e/ou a vida que buscamos, a partir de tentativas impulsivas conhecemos a realidade do mundo ao redor. O louco é guiado pelas paixões e o sábio pelas razões, as paixões nos ferem, mas são elas que nos movem para inúmeros aprendizados, nossa paixão refletida no amor, na família, na profissão, etc. Basta analisar que se somente seguirmos a razão mais em frente veremos que nossa vida foi baseada em um ideal falso, apenas para fazer parte do todo.

“De tanto perseguir os animais selvagens e de alimentar-se de suas carnes, os caçadores acabam se assemelhando a eles. Não obstante, acreditam levar uma vida de reis.” (XXXIX – Várias Forma de Loucura) “O sábio se refugia nos livros antigos e nele só aprende frias abstrações. O louco, ao enfrentar a realidade e os perigos, adquire a meu ver, o bom senso.” (XXIX – A Verdadeira sabedoria é a Loucura).

Como já disse na primeira parte deste texto, Erasmo foi conhecido pela grande crítica que fez ao clero e a burguesia, por mais que ele fosse um teólogo amplamente respeitado e desejado pelo Vaticano. Quem ler este livro sem antes ler sobre Erasmo, provavelmente vai achar que foi escrito por um rebelde agnóstico ou ateu, pois suas críticas à religião são espontâneas e claras perante a realidade da época, que com o passar do tempo tornou-se atemporal.

Para mim as abordagens que analisam o fanatismo religioso são sem dúvida os mais interessantes devido ao satírico que ele emprega em sua escrita. Veja este trecho onde ele critica a rezas e as indulgencias:

“O que dizer daquele que alimenta de fórmulas mágicas e de orações inventadas por um piedoso impostor, vaidoso ou ávido, por meio das quais se promete riquezas, honras, prazeres, abundância, saúde sempre sólida, viçosa velhice e, para encerrar, uma cadeira no paraíso, junto ao lado de Cristo! (...) Quem é mais feliz do que aqueles que recitam todos os dias os sete versículos dos Salmos pensando desse modo alcançar a felicidade dos eleitos? Ora, esses versículos mágicos teriam sidos revelados por um demônio, por brincadeira a São Bernardo.” (XL – Os Supersticiosos).

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